quinta-feira, 2 de outubro de 2008

identidade relativa

Concluí a explicação do problema da identidade pessoal com a afirmação de que a própria questão envolve pressupostos filosoficamente discutíveis. Vou apontar agora um desses pressupostos: o de que a identidade é, por assim dizer, absoluta.

Temos uma pessoa, a, num certo momento, e algo, b, noutro momento. (Como vimos, b tanto pode ser uma pessoa como outra coisa: um animal humano em coma irreversível, um robot que herdou os estados mentais de a.) E perguntamos: será que a é b? Ou seja, será que a e b são numericamente idênticos?

É a este tipo de questão que nos conduz o problema da identidade pessoal, como costuma ser entendido. Mas há quem pense que as questões deste género são impróprias: a ideia é que não faz sentido perguntar, sem mais, se a é b. Podemos apenas perguntar, por exemplo, se a é a mesma pessoa que b. Ou se a é o mesmo animal que b. Ou se a é o mesmo objecto material que b.

A proposta, em suma, é que as questões sobre identidade têm de ser relativizadas a tipos de coisas. E assim fará sentido dizer, por exemplo, que a é o mesmo animal que b, ainda que a não seja a mesma pessoa que b. Mas não fará sentido dizer, sem qualificações, que a é b. Ou, já agora, que a não é b.

Pelos comentários a este post (que agradeço!), diria que Locke pressupôs a concepção relativa da identidade.