Muitos destes primeiros universos não eram espaciais, mas não deixavam por isso de ser físicos. E entre estes universos sem espaço não eram poucos os que tinham uma natureza «musical»: o espaço era estranhamente representado por uma dimensão correspondente à altura musical, que abarcava miríades de diferenças tonais. As criaturas apresentavam-se como complexos padrões e ritmos de caracteres tonais. Podiam mover os seus corpos tonais na dimensão da altura e, por vezes, em dimensões humanamente inconcebíveis. O corpo de uma criatura era um padrão tonal mais ou menos constante, com o grau de flexibilidade e a ligeira mutabilidade de um corpo humano. Também podiam atravessar outros corpos vivos na dimensão da altura, à semelhança das ondas que se entrecruzam num lago. Todavia, ainda que estes seres pudessem passar tranquilamente pelos outros, também podiam lutar e danificar os seus tecidos tonais. Na verdade, alguns viviam devorando os outros, pois os seres mais complexos precisavam de integrar nos seus próprios padrões vitais os padrões mais simples que se espalhavam pelo cosmos, resultando directamente do poder criativo do Fazedor de Estrelas. As criaturas inteligentes podiam manipular, em função dos seus próprios fins, elementos que arrancavam do ambiente tonal fixo, construindo assim artefactos com um padrão tonal. Alguns eram usados como instrumentos para o desenvolvimento mais eficiente de actividades «agrícolas», o que permitia aumentar a abundância de comida natural. Os universos deste género, sem espaço, ainda que fossem incomparavelmente mais simples e magros do que o nosso próprio cosmos, eram suficientemente ricos para produzir sociedades que, além de «agricultura», tinham «artesanato» e até uma espécie de arte pura que combinava as propriedades da canção, da dança e da poesia. A filosofia, geralmente bastante pitagórica, surgiu pela primeira vez num cosmos deste género «musical».
Olaf Stapledon
Star Maker (1937)
Star Maker (1937)