quarta-feira, 10 de setembro de 2008

o grande afinador

Curiosamente, J. J. C. Smart (veja-se este post) mostra-se muito receptivo à ideia de uma pluralidade de universos no contexto da discussão sobre a existência de Deus.

Os físicos descobriram algo muito intrigante: o fine tuning de algumas das constantes fundamentais da natureza. Essas constantes têm valores aparentemente arbitrários e, se tivessem assumido valores um pouco diferentes, nunca teriam existido estrelas, planetas, vida, organismos capazes de pensar sobre estas coisas. Parece assim que o universo está minuciosamente afinado para permitir a existência de seres pensantes. Como explicar isto? Será que os valores das constantes se devem a um acaso bruto? Não há forma de repudiar esta possibilidade, sem dúvida, mas é sempre melhor evitar a crença em acasos extraordinários, se houver no horizonte uma explicação que os elimine. E parece haver uma explicação óbvia: um fine tuner, isto é, Deus ou algo lá perto. As constantes têm esses valores, e não outros, porque um agente concebeu o universo com o desígnio de o tornar habitável por seres conscientes.

Convenhamos que este é um herdeiro interessante do velho argumento do desígnio, o de William Paley, demolido por Hume e enterrado por Darwin. Interessante, sim, mas não arrasador. Muitos ateus, como Smart, sublinham que o acaso extraordinário e a agência divina não esgotam as alternativas. Imagine-se que há uma vastíssima pluralidade de universos e que os valores das constantes fundamentais variam aleatoriamente de universo para universo. Então em alguns deles (uma porção ínfima do todo, seguramente) as constantes assumem valores que permitem a existência de seres pensantes. Nada de espantoso. E ainda menos surpreendente: nós estamos num desses universos, pois como poderia ser de outro modo?

Onde poderemos, então, encontrar a melhor explicação do fine tuning? Na pluralidade de universos ou na agência divina? E, no primeiro caso, como deveremos entender esses universos? Como partes do mundo actual ou como mundos alternativos à maneira de Lewis? J. J. C. Smart e J. J. Haldane, um filósofo teísta, discutem o assunto neste livro brilhante.